
Stefanie Cirne, especial
Um momento que deveria ser prazeroso pode ser algo sofrido para muitas mulheres: sentir dor na hora do sexo é mais comum do que se pensa. Cerca de 40% das brasileiras já experimentaram, ao longo da vida, algum grau de dor tendo relações, de acordo com a pesquisa Mosaico 2.0, do Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex) do Hospital de Clínicas da USP. Este índice pode ser até bem maior, pois a vergonha leva muitas a sofrerem em silêncio. No entanto, não é qualquer desconforto que representa uma disfunção.
– A dor pode ser esporádica. Assim, não necessariamente um episódio significa que a mulher tenha dispareunia (dor intensa durante e depois do ato sexual) – explica a psiquiatra e sexóloga Carmita Abdo, coordenadora do estudo.
É preciso procurar ajuda quando a sensação de ardência, queimação ou dor aguda é constante, com desconfortos na entrada ou no fundo da vagina e que incomodam especialmente durante a penetração. Os tratamentos variam de acordo com a causa do problema e podem envolver ginecologista, psicoterapeuta, fisioterapeuta e nutricionista.
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Para entender as causas, que podem ser físicas ou psicológicas, conversamos com Carmita Abdo e também com Marcos Wengrover Rosa, chefe do serviço de ginecologia e obstetrícia do Hospital Moinhos de Vento, e com a fisioterapeuta pélvica Ana Cristina Gehring.
Causas psicológicas
Questões de fundo emocional podem tanto motivar a dor quanto agravar problemas físicos.
Sexualidade reprimida
Crenças de que o sexo é algo sujo, proibido ou perigoso – construídas ao longo da vida ou a partir de abusos – podem impactar muito a libido e a lubrificação vaginal. A retração da vagina durante a penetração é outro efeito comum quando este tipo de situação ocorre.
– A mulher desenvolve contrações musculares involuntárias na região pélvica e precisa desaprender isso, porque ela cria um padrão de falta de relaxamento – diz a fisioterapeuta pélvica Ana Cristina Gehring.
Normalmente, os espasmos musculares estão por trás de desconfortos que surgem ainda no início da vida sexual ou após situações traumáticas.
Conflitos no relacionamento
Além da falta de intimidade com o parceiro, situações como brigas, ressentimentos e questões mal resolvidas costumam afetar mais a disposição das mulheres do que a dos homens para o sexo. Este é outro fator que interfere na lubrificação e no relaxamento dos músculos da vagina.
Vaginismo
O problema tem origem psicológica e provoca a contração da vagina – e não só durante o sexo ou a masturbação, mas até em situações como a introdução de um absorvente interno. Involuntariamente, a mulher toma a penetração como uma ameaça e “se fecha” à experiência. Por isso, o distúrbio pode causar desconforto intenso durante a relação.
– As mulheres com vaginismo têm a libido conservada e conseguem ter orgasmo por meio da manipulação do clitóris, por exemplo. Elas só não toleram a penetração – pontua Marcos Wengrover Rosa, chefe do serviço de ginecologia e obstetrícia do Hospital Moinhos de Vento.
Como tratar: quando a dor é causada por contrações musculares, a paciente é encaminhada para a fisioterapia pélvica, que relaxa gradualmente os músculos dessa região.
– São usadas técnicas de percepção corporal e exercícios de coordenação muscular, com bio (aparelho que ensina a controlar a musculatura durante a penetração), além de dilatadores no canal vaginal – diz Ana Cristina.

Causas físicas
Falta de lubrificação
Estar bem lubrificada se torna um desafio em algumas fases da vida. Em casais mais jovens, por exemplo, as preliminares podem ser muito rápidas e não estimular devidamente o organismo antes da penetração.
Como tratar: às vezes, trocar de posição ou investir nas preliminares é suficiente para que a dor desapareça. A própria camisinha pode gerar alergia em algumas mulheres e ressecar a vagina. Se esse for o seu caso, a solução não é abrir mão do preservativo, mas apostar nas opções sem látex na fórmula.
Ressecamento vaginal
Por volta dos 50 anos, o corpo feminino encerra seu ciclo fértil, diminuindo a produção de estrogênio e outros hormônios. A menopausa resseca a vagina e deixa o órgão menos elástico, dificultando o sexo.
Como tratar: lubrificantes e hidratantes à base de estrogênio ajudam a melhorar a lubrificação na menopausa.
Infecções
Candidíase e outras doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), como a tricomoníase e a clamídia, podem inflamar a vulva e o colo do útero, provocando ardência. Geralmente, a dor está associada a corrimento, mau cheiro e coceira na região.
Como tratar: em caso de infecções ou DSTs, utilizam-se antibióticos e outros medicamentos para reparar a flora vaginal.
Endometriose
A dor durante a relação é um sintoma da doença, que, se não tratada, pode levar à infertilidade. A endometriose ocorre quando o endométrio – tecido que prepara o útero para a gestação – se desenvolve também fora do órgão, causando inflamações e dor na região pélvica. Cistos nas trompas e nos ovários também causam desconforto nessa área.
Consequências do parto
Mulheres que tiveram filhos há pouco tempo podem sentir dor por conta de cortes, cicatrizes e outros ferimentos decorrentes do processo. O risco é especialmente alto em mulheres que aram pela episiotomia, um corte feito entre a vagina e o ânus para ampliar o canal de parto.
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