Já temos candidato a filme mais triste do ano
Há um motivo extra para eu ter gastado espaço falando da carreira dos dois atores. É que A Grande Mentira é um filme sobre trapaça – quanto menos o espectador souber o que vai ver, mais ele poderá ser entretido durante quase duas horas (talvez seja melhor nem assistir ao trailer abaixo). O que dá para dizer é o seguinte:
Em sua quarta parceria com o diretor americano Bill Condon (após Deuses e Monstros, Mr. Holmes e a refilmagem de A Bela e a Fera, da Disney), McKellen encarna Roy Courtnay. Trata-se, como descobrimos logo nos minutos iniciais, de um golpista. Com ajuda do fiel escudeiro, Vincent (Jim Carter, o mordomo Carson de Downton Abbey), mente para todos, sejam viúvas com uma senhora poupança e uma confiança desmedida, sejam investidores dispostos a acreditar em lucro fácil e rápido.
Helen Mirren interpreta Betty, a próxima vítima de Roy. Os dois se conhecem por meio de um site de relacionamentos, usando nomes falsos, omitindo uma informações aqui, mudando sua história ali. Ou seja: ela também é capaz de mentir.
E chega de falar sobre a sinopse.
Baseado em um best-seller homônimo escrito por Nicholas Searle, A Grande Mentira tem uma virada na trama que, apesar de aguardada (pois os dois personagens certamente estão escondendo algo – "É mais profundo do que parece", dirá Betty), é um tanto quanto mirabolante e duvidosa, daquelas capazes de derrubar a suspensão da descrença. Mas cumpre dizer que, para não soar como uma solução mágica, tirada da cartola, o diretor Bill Condon espalha pistas. Fica a dica: preste atenção no filme a que Betty e Roy assistem quando vão ao cinema e no que os dois dizem após a sessão, e repare no destino turístico onde ela quer ar umas férias. Ainda assim, é possível que, ao final, o espectador sinta um gosto não de champanhe, mas de uma reles água – e sem gás.
Enquanto isso, vale, muito, testemunhar dois grandes atores maduros brincando como crianças em um parque de diversões. Ian McKellen e Helen Mirren aproveitam cada minuto em cena. Exibem seu talento para traduzirem, com uma fração de olhares, toda uma gama de sentimentos. Saboreiam cada linha de diálogo — chega a dar um frisson quando Betty fala sobre "segredos guardados entre a gente, Deus, o Diabo e os mortos".