
O número de diagnósticos positivos de covid-19 gira em torno de 65 casos confirmados para cada 100 mil habitantes durante a segunda semana de abril em Caxias do Sul. Entre os fatores que podem levar ao aumento deste número está o intervalo de mais de seis meses entre as doses da vacina, esquema vacinal incompleto e a mutação do vírus. De janeiro a março de 2023, 21 pessoas morreram na cidade em decorrência da infecção. Conforme a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), atualmente os casos positivos são acompanhados por semanas epidemiológicas, contadas de domingo a sábado. O número de casos também é acompanhado a cada 100 mil habitantes, não mais em porcentagem.
Entre a metade de janeiro de 2023 e a última semana de fevereiro e os primeiros dias de março, o índice era estável, com taxa de incidência variando entre cerca de 16 e 25 casos confirmados para cada 100 mil habitantes. Depois desse período foi registrado um aumento dos casos, com pico em torno de 76 confirmados para cada 100 mil habitantes durante a última semana de março.
Nas duas primeiras semanas de abril, os dados sugerem estabilidade, com 63 na primeira e cerca de 65 casos confirmados para cada 100 mil habitantes na segunda semana. Mesmo com essa pequena queda do final de março para agora, o número é alto se comparado ao começo de 2023. Esses dados foram extraídos do banco de dados do Coronavírus RS e estão sujeitos a atualizações. A Secretaria Municipal da Saúde (SMS) monitora os dados e mantém a vacinação como a principal estratégia de prevenção para evitar a circulação do vírus.
A infectologista do Hospital Geral (HG) de Caxias do Sul, Viviane Buffon, reitera que as vacinas são altamente eficazes para manter a pandemia sob controle. A especialista ressalta ainda que entende-se que o tempo ideal de intervalo entre uma dose e outra segue sendo de seis meses. Sem esse reforço, a cobertura não é tão efetiva. Caso o paciente tenha sido infectado e vacinado, o tempo de imunização é um pouco maior.
— Esse aumento de casos é multifatorial. Tem a questão da resposta do próprio paciente à vacina, a questão das comorbidades, somado à questão do tempo da última dose e aliado a essas mutações do vírus — destaca.
Ela esclarece que, mesmo após a vacinação, há registros de ondas de transmissão de covid-19 devido a essa capacidade do vírus de sobreviver ao ambiente e originar variantes com estrutura diferente do vírus original:
— O vírus escapa parcialmente dos anticorpos que o organismo produziu após uma infecção anterior ou da vacinação. Essas mutações, sendo aleatórias, podem trazer vantagens ou desvantagens aos vírus, mas é natural que somente aquelas que trazem vantagens acabem se tornando importantes do ponto de vista de transmissão e gravidade de doença.
Vacina bivalente
A vacina bivalente imuniza contra mais de uma versão do vírus de uma só vez. Para isso, é usada a tecnologia do mRNA, com dois códigos genéticos. No caso da Pfizer, é usado o código da cepa original do coronavírus e o da variante Ômicron, que é a predominante nas infecções recentes no mundo todo. A fórmula é a mesma da Pfizer que já estava sendo aplicada, mas com compostos adicionais que permitem aumentar a proteção. Contudo, as doses ainda não estão disponíveis para todos os públicos, apenas aos grupos prioritários. Com isso, parte da população recebeu a quarta dose da vacina contra a covid-19 em 2022.
Conforme a infectologista Viviane Buffon, os estudos feitos até o momento sugerem um aumento na produção de anticorpos neutralizantes contra o covid-19 quando se usa as vacinas bivalentes em comparação às vacinas univalentes, supondo-se assim que a eficácia desta vacina seja um pouco maior.
— O ideal é que todos recebessem a vacina bivalente, mas a estratégia atual é proteger os mais vulneráveis do ponto de vista de comorbidades que contribuem para uma pior evolução clínica — afirma a médica.
Até o momento não há como identificar se haverá mais hospitalizados e aumento do número de mortes devido aos casos. Até porque isso depende também da imunidade dos infectados e da resposta do corpo à doença, bem como às comorbidades, que são fatores de risco.
Subvariantes
Ainda segundo a médica, a proteção das vacinas disponíveis atualmente pode ser reduzida frente a subvariantes da Ômicron, como a B.Q1, que pode escapar mais facilmente dos anticorpos neutralizantes. A XBB.1.5 ou Kraken é outra subvariante de Ômicron e segue a partir de XBB e XBB.1. Essa variante tem combinação de propriedades de escape imunológico e uma afinidade de ligação mais alta com a proteína denominada ECA-2, o que poderia levar a uma maior transmissibilidade. Por isso, é possível que o XBB.1.5 cause um aumento na incidência após a onda atual. No entanto, segundo a especialista, ainda é cedo para confirmar que isso pode acontecer.
Ela esclarece também que as estimativas específicas da eficácia da vacina ainda não estão disponíveis para a XBB.1.5, mas a Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que pode ter o maior escape imunológico até o momento. Mesmo assim, Viviane frisa que a vacinação reduz o risco de infecções graves e, por isso, é necessário completar o esquema vacinal:
— Sempre haverá uma pequena porcentagem de pessoas totalmente vacinadas que ainda ficarão doentes, mas os sintomas provavelmente serão leves ou ausentes nas pessoas vacinadas que ficarem infectadas.